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Há minas de ouro na EN 125 no Algarve

 

Quando o governo decidiu colocar portagens na Via do Infante (uma medida ilegal tendo em conta que esta via foi construída com dinheiros da CEE – intitulada por esse motivo de SCUT – sem custos para o utilizador), sabia que o ditado popular “Os cães ladram e caravana passa”, haveria de, mais tarde ou mais cedo, vir a concretizar-se.

Ou seja, os utentes regulares, ou mesmo diários, mais dia menos dia, voltariam à Via do Infante sujeitando-se ao sorvedouro de euros instalado nos diversos pórticos colocados naquela via.

Enganaram-se. A Via do Infante é um quase deserto rodoviário e, em contrapartida, a EN125 está transformada numa quase ininterrupta fila de viaturas em toda a sua extensão, exponenciando acidentes a cada dia que passa.

Mas os nossos governantes não costumam deixar-se enganar pelos contribuintes, essencialmente quando estes se rebelam contra a cobrança de impostos encapotados.

Verificadas as magras receitas das portagens e constatação de que a EN125 transborda de tráfego havia que contornar esta “esperteza” dos algarvios e a fazê-los pagar com juros.

Não sei quantas povoações ou lugares a EN 125 atravessa desde Vila Real de Santo António até Lagos. São certamente largas dezenas.

Ora, como a gente que nos governa não dorme em serviço, qualquer funcionário minimamente perspicaz descobriu que havia um meio fácil e eficaz de recuperar as verbas não cobradas nas portagens. Até com juros, muitos juros, como pude verificar.

Lançando mão da inatacável preocupação pela segurança nas estradas, toca de destacar brigadas da GNR armadas do eficaz dispositivo de detecção de velocidade para os locais povoados por onde a EN 125 passa e montar mais à frente uma autêntica tenda de cobranças coercivas, onde se arrecada mais de 100 portagens de cada vez. Uma autêntica mina de ouro.

A coisa é simples e altamente produtiva, tanto quanto vergonhosa e digna de alguns idiotas (pessoas com ideias) do chamado 3º mundo.

A legislação rodoviária confere que a partir duma placa com a indicação de localidade a velocidade é automaticamente reduzida para 50 Km/h, mesmo que lá não figure o respectivo sinal de proibição. Se se esqueceu disto lembre-se quando for ao Algarve. Isto fazia e faz sentido quando se entra numa povoação e a via passa a rua dessa localidade, normalmente uma via estreita rodeada por habitações e passeios.

Mas na EN 125, na enorme maioria dos casos, senão todos mesmo, a via é sempre a EN 125, não passando a um simples arruamento. Uma via larga que em muitos casos está protegida com railes de segurança mesmo nas poucas casas que existam perto da estrada.

Haverá casos onde os ridículos 50Km/h possam fazer algum sentido, mesmo tratando-se duma EN com uma faixa de rodagem larga e segura. Noutros é uma autêntica armadilha e é com um alto grau de garantia que se pode afirmar que um condutor que faça a EN 125 duma ponta à outra dificilmente não cai numa delas.

Por outro lado, para que tal não aconteça, os sinais e circunstâncias são tantas que para os cumprir dificilmente um condutor consegue ficar atento ao resto da sua condução, dispersando a sua atenção quer pelos sinais visíveis (sinalização de trânsito) quer pelos de dedução (aproximação de localidade). A EN 125 é um autêntico labirinto para a atenção dos condutores.

Não obstante este quadro já de si ardiloso, as brigadas usam de pequenas artimanhas como a que ocorre na Guia com alguma regularidade, conforme me relataram.

Quem vem no sentido de Faro-Portimão, antes de chegar à enorme rotunda que ali foi construída (as rotundas são igualmente um expoente máximo de adorno duma EN…) há um sinal de proibição de ultrapassar os 70Km/h e logo a seguir a placa indicando Guia. Se o condutor se orientar pelos 70Km/h e se esquecer da placa de localidade, já está em transgressão. Contudo a rotunda que se segue obriga mesmo a uma redução drástica.

Mas a verdadeira armadilha vem a seguir.

Saindo da rotunda a estrada é livre e há meia-dúzia de casas afastadas da via e protegidas por railes. Percorrendo cerca de 400 ou 500 metros o condutor avista a placa que dá por finda a povoação e, segundo a legislação, finda a obrigatoriedade de rolar a menos de 50 Km/h.

Se pensa que pode escapar ao zelo capcioso do agente da brigada, desengane-se. A menos de 100 metros desta última placa uma máquina zelosamente instalada irá apanhá-lo caso o condutor se sinta seguro para poder avançar um pouco mais depressa escassos metros antes de passar o derradeiro sinal de fim de povoação. Cerca de 2 Km mais à frente, um garboso militar da GNR mandará pará-lo, indicando-lhe o caminho para uma carrinha onde outro agente, devidamente armado (literalmente, com pistola e terminal Multibanco…), o informará da transgressão com a seguinte ladainha: “pagando já fica o problema resolvido, senão teremos que lhe apreender os documentos que depois terá que ir buscar ao posto de Albufeira…”.

Aquilo não é uma informação ou conselho. Aquilo é um … “ou pagas já ou é uma chatice para todos…”

E o cidadão, que nem sabe bem o que lhe aconteceu, porque a prova não lhe é mostrada, paga e ainda se agradece a si próprio não ter que ir ao posto da GNR de Albufeira para recolher os documentos.

Sei que o tema dos excessos de velocidade, segurança rodoviária e limites mais que duvidosos quanto aos fins a que se destinam, são tudo questões complexas havendo opiniões e perspectivas para todos os gostos.

Mas o caso que aqui se relata oferece poucas dúvidas quanto ao oportunismo político de que se revestem estas autênticas manobras astuciosas dos agentes da autoridade, para mais quando recentemente foi tornado público o montante arrecadado pelo Estado em multas de trânsito: 392 milhões de euros apenas em dois meses…

Ora, ou os portugueses são uns beneméritos, uns mãos largas, ou demasiado crentes na honestidade e sentido de prestação de um bom serviço por parte das autoridades que enveredam por estas vias de menor transparência… vá lá saber-se a mando ou sugestão de quem…!?

Previna-se. Quando for ao Algarve pondere as opções que tem pela frente: ou paga as portagens na Via do Infante, ou, pelo sim pelo não, vá de Vila Real de Stº António a Lagos a 50 Km/h.

Tendo em conta a proverbial capacidade do algarvio para contornar problemas que lhe atormentam a vida, não me admira nada que em breve não esteja em função uma carreira de barcos entre Vila Real e Lagos… com apeadeiros ao longo da costa.

PC

3 comments on “Há minas de ouro na EN 125 no Algarve

    • É por estas e por outras, que as autoridades deste país, não merecem o respeito de muito e boa gente, veja-se o caso do Pedro Dias; sabe-se lá o que levou o homen a tomar as atitudes que tomou? Os ódios ficam guardados bem fundo no interior do ser humano; isto é um país de chulos.

  1. Para quem vive no Algarve tudo isto é simplesmente vergonhoso! Temos a via do Infante que está às moscas devido aos governantes que temos; entretanto, na EN 125 o trânsito tornou-se insuportável e os acidentes são incontáveis diariamente com mortes e muitos que ficam com as vidas destroçadas.

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