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– Críticas e comentários ao Livro “A JUNTA”

“A Junta” transporta-nos ao passado recente, um assunto muito sério que lemos com um sorriso nos lábios.

O tema foi muito bem escolhido, tratado com maestria e bem desenvolvido, pondo em confronto o passado e o presente com  vivacidade e  ritmo que esmorece um pouco no pós 25 de Abril, onde a escrita se enrola um tudo nada, para renascer de imediato, ainda mais pujante e humorística – porque o humor perpassa ao longo da narrativa e esse, nunca esmorece.

Bem estruturado, consegue manter-nos interessados,  um interesse que ultrapassa o que está a acontecer, para nos expectarmos no futuro da história, que se vai desenrolando ao sabor dos acontecimentos que ora são explícitos ora se aduzem pelos diálogos, pelos silêncios, pelas perplexidades das personagens tão bem caracterizadas que nos sentimos quase vizinhos daquela gente, fazendo parte daquela comunidade.  Em meia dúzia de “pinceladas” cada uma adquire personalidade própria, que nos leva a saber o que irá dizer ou que atitude tomará.

E estão ali os que sempre existem nas aldeias: as comadres, os comerciantes, o padre, o rico proprietário, etc., mas o inenarrável Nandinho, a minha  personagem preferida, com as suas tiradas, a beata mencionada à exaustão, a sua filosofia, a impunidade com que lhe é consentido tudo dizer, o ser menos parvo do que o julgam…

Os gestos de cada um,  minuciosa e oportunamente descritos, como se os tivessem observado à lupa; os diálogos que, de tão reais, dir-se-ia a transcrição de  gravação feita previamente.

Foram muitos os motivos de risada e os momentos de boa disposição.

Há cenas perfeitamente hilariantes que talvez tenham o seu ponto alto  na primeira assembleia a que se juntaram os cães (uma ideia tão louca, mas que resultou na perfeição), a indignação do Nandinho… a tirada da comadre… a oposição à compra da bicicleta, enfim, nem vale a pena continuar.

Perguntaria: Mas este é o endereço do autor de “Os Capitães do Vento”? Não!!!

Conto Vivo será a outra ponta da estrela (como na Mercedes) de um escritor trifacetado, ou melhor, ainda teremos de falar do “Não há escola” e aí acrescentar uma quarta ponta?

Desejo sinceramente que o processo de venda funcione, porque o livro merece ser lido e nos tempos conturbados que atravessamos bem necessitamos de algo que nos divirta.

Maria Herculana P. Martins

(Professora aposentada – Faro)

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Não estou muito vocacionada para a crítica ou para julgamentos. A opinião que dou é o meu sentir, foi o que o livro me transmitiu.

Ao ler “A Junta” há uma figura que sobressai, penso que todos o acham, é o Nandinho.

Para mim é a consciência da aldeia e mais, é o próprio autor.

O que me foi transmitido foi o espírito de alguém inconformado com o poder instituído, político e religioso. Alguém que podemos dizer “de esquerda”mas que também critica essa esquerda que apareceu, porque ela não é tão límpida como a deseja, ou como sempre a sonhou.

É um livro sério que nos põe a pensar e não estou muito de acordo com uma ou outra opinião que refere ser o livro divertido.

Não, não me diverti, antes fez-me retroceder no tempo e comparar com o tempo presente .Quantas verdades estão ditas!

Também não estou de acordo com o próprio autor quando diz que é um livro leve e despretensioso.

É uma leitura densa, descritiva e, nesta óptica, tenho pena que não haja mais diálogos. Aí, sim, seria mais leve e o linguarejar, a meu ver, sairia mais rico, sobressaindo melhor a homenagem que o autor desejou fazer ao Algarve e aos algarvios.

Vê-se que há pouco afecto para com a igreja…ou aos padres! Mas tenho que me reportar à ficção, não é verdade?

Agora uma brincadeira: se não é agradável ser Algoz, ser Carrascos é muito pior!!!!…

Judite C. Neto

(Professora aposentada – Algoz)

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Amigo Cabrita

Mais uma vez, deixaste-me deslumbrado com a tua escrita. A narrativa, para além do notório interesse histórico e documental, é recheada de um humor incrível, com momentos absolutamente hilariantes (aquele Nandinho é uma personagem de se lhe tirar o chapéu, mas todas as restantes estão maravilhosamente construídas!!!). Entra-se no ambiente da aldeia do Cerro e não se quer sair dali. Lê-se cada página com a sofreguidão de passar à seguinte e à seguinte e à seguinte, como se fizessemos parte do cenário.  Pena que este livro não chegue a muitas mãos. Merecia um destaque especial na nossa literatura. De facto, não deve haver muitas obras no género, abordando a temática da revolução e pós revolução como tu o fizeste: um rigor histórico irrepreensível, sem nunca perder o encanto da tua arte de escrever e narrar. Estou a imaginá-lo adaptado ao cinema. Dava uma obra e peras. Parabéns.

Grande abraço
Alexandre Marta

    (Professor)

1 comments on “– Críticas e comentários ao Livro “A JUNTA”

  1. Os amigos são mesmo do melhor que há.
    O meu abraço à vossa benevolência para com este improvável escriba que o é apenas por necessidade de comunicação.
    E não encontrei melhor forma; umas vezes rindo, outras amargando os pesadelos da guerra, ou ainda revolvendo mais de trinta anos de escola e o desejo de continuar a lutar por melhor ensino, melhores alunos e professores, no fundo, melhor país.
    No fim tudo será embrulhado em pacote de papel lustroso e entregue como testemunho de vida aos netos, a minha última paixão.

    Abraço vigoroso de gratidão.

    Pedro Cabrita

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